1980 e 1990 –
Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo &
Luciano, Chrystian & Ralf
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Fivelas sobrando |
Eu me
lembro da primeira vez em que vi o Leandro e Leonardo. No Faustão.
Aliás, bem provavelmente, era a primeira vez em que ELES FORAM ao
Faustão. Eu devia ter uns... sei lá... 4 ou 5 anos. A memória é
bem vaga. Mas me lembro da sensação estranha de pensar: “espera
ai! Esses caras não são a dupla sertaneja. A dupla é aquela do
cara de cabelo esquisito e voz fina”. No auge da minha ignorância
infantil, a única dupla que existia era Chitãozinho e Xororó – e
só podia ter uma dupla. Depois que ouvi os novatos cantando, me
conformei: “Ah bom, também tem voz fina”.
Os
falsetes desesperados (aquelas vozes esganiçadas) entraram para o
hall da fama do sertanejo no início dos anos 80, com o José e
Durval (aliás, só fui descobrir que esse era o verdadeiro nome dos
chitões em um filme dos Trapalhões – claro que passei a meia hora
seguinte rachando de rir). Até então, existiam vozes finas e bem
postadas, mas essa voz esganiçada (e que só faz sucesso desse jeito
aqui no Brasil) era novidade até então. Iniciava-se a era dos
'mullets' também... esse tipo de cabelo que o McGyver, Daniel-San e
mais um monte de personagens oitentistas colocaram em voga – e que
a turma do sertanejo abraçou com entusiasmo.

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Olha a cabeleira do Zezé |
Logo em
seguida, no início dos anos 90, veio a onda Zezé Di Camargo e Luciano (ele, o Zezé, já
havia tentado o sucesso com vários irmãos – Camargo e
Camarguinho, Zazá e Zezé – e até carreira solo). Em relação à
dupla de tomateiros, houve um sensível aumento de qualidade, tanto
em conteúdo quanto musicalmente. O bolero entrou de sola, e a dupla
dos camargos chegou a gravar com Julio Inglesias – e em espanhol!
Pasmem.
Interessante
notar que, mesmo após a regravação da Maria Bethânia para o hit
“É o amor”, do Zezé e Luciano, o estilo sertanejo remodelado à
cidade ainda manteve-se à margem da sociedade. Nem mesmo o drama das
mortes de João Paulo (1997), da dupla João Paulo e Daniel e de
Leandro (1998), acompanhados em rede nacional, alavancaram o sucesso
sertanejo às elites. Aliás, a Globo chegou a criar um especial -
“AMIGOS” - somente com apresentações sertanejas, mas ainda
assim as duplas conseguiam atingir, majoritariamente, apenas as
classes C e D. Estive presente em um show do Zezé (não me pergunte
o porquê) na Praça do Trabalhador, em Goiânia, e deu bem para
reparar isso. Um público gigantesco! Mas pouca (ou nenhuma) gente
das classes mais altas. Sertanejo, até metade pro fim dos anos 90,
ainda era considerado “música de empregada” ou “de cabaré”.
De certa forma, bom para a indústria fonográfica, claro! Mas isso
não significava, necessariamente, a inclusão definitiva do gênero.
(Pergunte a qualquer um o que achava do “Sabadão Sertanejo”, do
SBT. Decadência total.)
Nessa época, “música
caipira”, “sertanejo de raiz” e “moda de viola” já eram
termos bem comuns para diferenciar os 'sertanejos-falsete' daqueles que
foram a raiz do gênero.
Menção
honrosa para Chrystian e Ralf – que terminaram de consolidar a moda
country no sertanejo urbano – e Sandy e Junior, uma tentativa
solitária e bem sucedida de inserir os elementos do gênero no meio
infantil.
Desculpe,
mas eu vou chorar
(Gabriel
César Augusto)
As
luzes da cidade acesas
Clareando
a foto sobre a mesa
E
eu comigo aqui trancado
nesse
apartamento
Olhando
o brilho dos faróis
Eu
me pego a pensar em nós
voando
na velocidade
do
meu pensamento
E
saio a te procurar
nas
esquinas
em
qualquer lugar
e
as vezes chego a te encontrar
num
gole de cerveja
E
quando vem a lucidez
estou
sozinho outra vez
E
então volto a conversar
com
minha tristeza
Vou
chorar, desculpe mas eu vou chorar
Não
ligue, se eu não te ligar
Faz
parte dessa solidão
Vou
chorar, desculpe mas eu vou chorar
Na
hora em que você voltar
Perdoe
o meu coração.
Tinha uma vizinha, lá no Parque das Laranjeiras, que atormentava a gente todo santo dia, encerando o chão da casa (no século passado, passavam cêra no chão das casas para brilhar mais!) e cantando essas preciosidades ai. Trauma até hoje.
Principais
artistas do período: Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo,
Zezé Di Camargo e Luciano, Chrystian e Ralf, Gian e Giovani, João
Paulo e Daniel, Rick e Renner, Roberta Miranda, Chico Rey e Paraná,
João Mineiro e Marciano, Gilberto e Gilmar, Nalva Aguiar, Trio
Parada Dura, Almir Sater.
Põe maltratada nisso, Juan, hehhee!
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