segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

E vamos falar sobre essa tão maltratada MÚSICA SERTANEJA (parte 01)

 

1929 – Cornélio Pires

Cornélio Pires é considerado como o criador da música caipira. O interessante é que ele não era cantor, nem caipira! Tinha formação em jornalismo, era escritor e pesquisador da cultura folclórica brasileira – primo do Orígenes Lessa.

Cornélio Pires
Seu foco, durante muito tempo, foi a “cultura caipira”, e chegou a escrever mais de vinte livros sobre o tema. Peregrinava pelo interior de São Paulo para sorver dessa fonte. Nessas andanças, apaixonou-se pela música caipira original, ligada às tradições circenses e à religião.

Sim, religião!! Como uma boa parte dos elementos da cultura brasileira, também a música sertaneja teve sua origem aí. As primeiras “modas de viola” surgiram nos grupos das Folias de Reis – pequenos grupos que visitavam as casas das pessoas para rezar e cantar, na véspera de natal. As músicas, acompanhadas de viola, tinha rimas e evocavam trechos da bíblia, bençãos aos donos da casa e de abrigo ou comida.

E o Cornélio conseguiu, em 1928, que a indústria fonográfica registrasse essas canções, com suas devidas adaptações (como a redução do número de pessoas e a diversificação da temática).

Com a possibilidade de exploração comercial, o gênero iniciou sua expansão. Geralmente, as modas (palavra portuguesa que designa “canto” ou “melodia”) eram cantadas em duas vozes (em intervalos musicais de terças), acompanhadas por viola (tocada ou ponteada/solada). As duplas criavam estórias de amor e de morte, críticas ao governo e à sociedade, chegavam a esboçar certo engajamento social – ainda que instaladas no campo (por exemplo, "A Revolução Getúlio Vargas" e "A Morte de João Pessoa", composições gravadas por Zico Dias e Ferrinho, em 1930). Os “causos” famosos invariavelmente ganhavam sua versão musical. Nessa época, surgiram os “desafios”, em que as duplas, tal qual repentistas, revezavam-se com outras duplas na criação das letras. Quem não conseguisse, perdia o desafio. O foco era totalmente no conteúdo das músicas. A qualidade das vozes ou diversificação de instrumentos ficavam totalmente em segundo plano.


Peito Sadio
(Zé Carreiro e Carreirinho)

Foi as quatro horas da manhã, meu cachorro de guarda latiu
Levantei para ver o que era, e vesti meu casaco de frio
Então vi que chegou um mensageiro, amuntado num burro turdio
Apiou e me disse bom dia ! E o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou e de novo amuntou e na estrada sumiu.

Dei a carta pro meu irmão ler, ele leu e me olhando sorriu,
“É convite pra nós ir na festa, vai haver um grande desafio”.
O meu pai já correu no vizinho, foi chamar o vovô e o titio
Nós cheguemo a pular de contente, lá em casa ninguém mais dormiu.
Pra quebrar aqueles campeonato nem com sindicato ninguém conseguiu.

Violeiro que mandou o convite, moram lá do outro lado do rio
Eles pensa que nós não vai lá, mais nós semo cabôco de brio
A peteca aqui do nosso lado, por enquanto no chão não caiu
Quando nós cheguemo no catira, os mais fraco na hora sumiu
Só cantemo moda de campeão e os tal que era bom nem se quer reagiu.

Perguntei para o dono da festa “onde foi que o senhor conseguiu
Esses tal violeiro famoso, que as moda de nós engoliu?”
O festeiro ficou pensativo, e mordeu no cigarro e cuspiu.
“Vocês são dois cabôco batuta, quem falou, pode crer, não mentiu”
Teve algum que cantar experimentou, mais o peito faiô e a voz não saiu.

As viola nós faz de encomenda, nosso peito é tratado e sadio,
Já cantemo três noite seguida e as moda nós não repetiu.
Quem repete é relógio de igreja e o triste cantar do tiziu
E agora com essa vitória, inda mais nossa fama subiu.
E vocês não deve discutir, se viemos aqui, foi vocês quem pediu. 



(Essa, com meu tio Marquinho cantando, é uma pérola! Hahaha) 
 
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