1929 – Cornélio
Pires
Cornélio
Pires é considerado como o criador da música caipira. O
interessante é que ele não era cantor, nem caipira! Tinha formação
em jornalismo, era escritor e pesquisador da cultura folclórica
brasileira – primo do Orígenes Lessa.
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Cornélio Pires |
Seu
foco, durante muito tempo, foi a “cultura caipira”, e chegou a
escrever mais de vinte livros sobre o tema. Peregrinava pelo interior
de São Paulo para sorver dessa fonte. Nessas andanças, apaixonou-se
pela música caipira original, ligada às tradições circenses e à
religião.
Sim,
religião!! Como uma boa parte dos elementos da cultura brasileira,
também a música sertaneja teve sua origem aí. As primeiras “modas
de viola” surgiram nos grupos das Folias de Reis – pequenos
grupos que visitavam as casas das pessoas para rezar e cantar, na
véspera de natal. As músicas, acompanhadas de viola, tinha rimas e
evocavam trechos da bíblia, bençãos aos donos da casa e de abrigo
ou comida.
E o
Cornélio conseguiu, em 1928, que a indústria fonográfica
registrasse essas canções, com suas devidas adaptações (como a
redução do número de pessoas e a diversificação da temática).
Com a
possibilidade de exploração comercial, o gênero iniciou sua
expansão. Geralmente, as modas (palavra portuguesa que designa
“canto” ou “melodia”) eram cantadas em duas vozes (em
intervalos musicais de terças), acompanhadas por viola (tocada ou
ponteada/solada). As duplas criavam estórias de amor e de morte,
críticas ao governo e à sociedade, chegavam a esboçar certo
engajamento social – ainda que instaladas no campo (por exemplo, "A
Revolução Getúlio Vargas" e "A Morte de João
Pessoa", composições gravadas por Zico Dias e Ferrinho, em
1930). Os “causos” famosos invariavelmente ganhavam sua versão
musical. Nessa época, surgiram os “desafios”, em que as duplas,
tal qual repentistas, revezavam-se com outras duplas na criação das
letras. Quem não conseguisse, perdia o desafio. O foco era
totalmente no conteúdo das músicas. A qualidade das vozes ou
diversificação de instrumentos ficavam totalmente em segundo plano.
Peito Sadio
(Zé Carreiro e
Carreirinho)
Foi as quatro horas
da manhã, meu cachorro de guarda latiu
Levantei para ver o que era, e vesti meu casaco de frio
Então vi que chegou um mensageiro, amuntado num burro turdio
Apiou e me disse bom dia ! E o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou e de novo amuntou e na estrada sumiu.
Levantei para ver o que era, e vesti meu casaco de frio
Então vi que chegou um mensageiro, amuntado num burro turdio
Apiou e me disse bom dia ! E o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou e de novo amuntou e na estrada sumiu.
Dei a carta pro meu irmão ler, ele leu e me olhando sorriu,
“É convite pra nós ir na festa, vai haver um grande desafio”.
O meu pai já correu no vizinho, foi chamar o vovô e o titio
Nós cheguemo a pular de contente, lá em casa ninguém mais dormiu.
Pra quebrar aqueles campeonato nem com sindicato ninguém conseguiu.
Violeiro que mandou o convite, moram lá do outro lado do rio
Eles pensa que nós não vai lá, mais nós semo cabôco de brio
A peteca aqui do nosso lado, por enquanto no chão não caiu
Quando nós cheguemo no catira, os mais fraco na hora sumiu
Só cantemo moda de campeão e os tal que era bom nem se quer reagiu.
Perguntei para o dono da festa “onde foi que o senhor conseguiu
Esses tal violeiro famoso, que as moda de nós engoliu?”
O festeiro ficou pensativo, e mordeu no cigarro e cuspiu.
“Vocês são dois cabôco batuta, quem falou, pode crer, não mentiu”
Teve algum que cantar experimentou, mais o peito faiô e a voz não saiu.
As viola nós faz de encomenda, nosso peito é tratado e sadio,
Já cantemo três noite seguida e as moda nós não repetiu.
Quem repete é relógio de igreja e o triste cantar do tiziu
E agora com essa vitória, inda mais nossa fama subiu.
E vocês não deve discutir, se viemos aqui, foi vocês quem pediu.
(Essa, com meu tio Marquinho cantando, é uma pérola! Hahaha)
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