No meu universo, o
sertanejo universitário começou com um professor do ensino médio.
Não foram os estudantes, muito menos universitários. Esse
professor meu de física da oitava série estava desenvolvendo um
trabalho de laboratório e precisava de alunos que se voluntariassem
a ajudá-lo durante as aulas. Eu era um desses. Um dia, quando fui
colocar os materiais das aulas no porta malas do carro dele –
pipetas, beckers, calculadoras científicas e toda essa parafernália
- o professor soltou essa: “Sei que você é do rock, então vou
colocar um som especialmente pra você”. E bombou um Bruno e
Marrone, no último volume.
Confesso
que aquilo me causou certa vergonha. Alheia e própria. Mas me chamou
a atenção o fato de ele ouvir aquilo sem constrangimento. Quer
dizer, Zezé, Chitão e Leonardo ainda eram bregas. Mas Bruno e
Marrone, não! O sertanejo havia começado uma invasão abrupta e
devastadora nos carros de playboy (inclusive nos professores
playboys)!
Exatamente!
Bruno e Marrone são os culpados pelo sertanejo universitário. Se
tiver que jogar pedra na casa de alguém, é na deles. As grandes
produções sertanejas, com músicos de primeira linha e orçamentos
altíssimos já existiam, claro – os chitões que começaram. Mas,
de maneira bem interessante, a elitização do sertanejo foi iniciada
com a gravação do "Acústico Ao Vivo" do Bruno e Marrone, em 2001 - justamente o que meu professor colocou pra tocar. (Vale uma
menção honrosa, também, a dupla Rio Negro & Solimões, que em
1998 inseriu a batida tecno na música “De São Paulo a Belém” e
instalou a ambiguidade em nossos ouvidos.).
Aliás,
ressalte-se que antes desse acústico, os próprios Bruno e Marrone
só faziam sucesso entre as classes mais baixas, desde 1994. São
eles os responsáveis por um fenônemo até então inédito: ficaram
famosos antes de saírem na mídia de massas. Os primeiros álbuns
que gravaram se tornaram bastante populares entre os vendedores de
disco pirata. A pirataria foi a grande aliada da dupla – que vendia
milhares de álbuns sem nunca ter ido sequer no programa do Túlio
Isac (Ganhooooouuuuuuu!).
![]() |
Esse foi o vírus |
No ano
seguinte, veio o Acústico Ao Vivo, com o lançamento do DVD do show.
E, com ele, a consagração definitiva, porque paralelamente, surgiam
os primeiros aparelhos de DVD automotivo – apenas nos carros dos
playboys. Como não era moda o lançamento de shows em vídeo, a
única coisa que a playboyzada tinha para ouvir e ver nos carros era
o som do momento – Bruno e Marrone Acústico (tá, esse fim foi por
minha conta – mas explica muita coisa).
O fato
é que, depois disso, a coisa se espalhou igual a notícia ruim.
Surgiram diversas duplas novas, a maioria lançando a carreira com
discos acústicos e ao vivo, acompanhadas de DVD. Inclusive hoje é
fácil achar na rua propagandas de duplas totalmente desconhecidas
convidando para a gravação do DVD oficial. O modelo de mercado foi mudado e essa nova estratégia se tornou comum. Afinal, o custo de se
gravar um show e lançá-lo como disco é infinitamente menor
do que a produção do álbum em estúdio, já que a própria
plateia, ao pagar ingresso, financia a obra.
A Saudade é o Prego
(Nilma Pinóchio)
Deu um arrocho no
peito
Eu fiquei apavorado
São Paulo ficou
pequena
Um lugarzinho
abafado
Peguei a Via
Anhanguera
E a coisa ficou pior
Quando passei em
Campinas a
Dava pena dava dó
No trevo de
Americana
Pensei, não vou
agüentar
De Limeira até
Araras
Fui chorando sem
parar
Uma parada em Leme
Dei um alô a
platéia
Foi lá em
Pirassununga
Que eu tive uma boa
idéia
E parar em Ribeirão
Tomar um chopp
gelado
E lá eu passei em
Franca
Comprei uma bota
invocada
E na festa de
Barretos
Cheguei muito
apaixonado
A saudade é um
prego
Coração é um
martelo
Fere o peito e dói
na alma
E vai virando um
flagelo (4x)
De Uberaba à
Uberlândia
Fui contemplando a
beleza
Dando um tapa na
saudade
Ouvindo moda
sertaneja
Cidade de Araguari
O meu pranto era
prova
Fui curar minha
ressaca
Nas águas de Caldas
Novas
Tem coisas que a
gente pensa
Coração fica
doente
Pensei na Lua-de-mel
Na Pousada do Rio
Quente
E no Trevo de
Morrinhos
Chorando igual
criança
Se encontra-la em
Goiânia
Eu vou cheio de
esperança
E se na linda
Goiânia
Eu não encontrar
niguém
Amanhã bem cedo eu
sigo
Com destino à Belém
Vou até no fim do
mundo
Mas quero encontar
meu bem
A saudade é o prego
Coração é o
martelo
Fere o peito e dói
na alma
E vai virando
flagelo (4x)
Principais
artistas do período: Bruno e Marrone, Rio Negro e Solimões,
Guilherme e Santiago, Marcos e Léo, João Bosco e Vinícius, César
Menotti e Fabiano, Jorge e Mateus, Victor e Léo, Fernando e Sorocaba,
Marcos e Belutti, João Neto e Frederico, Cristiano Araújo, Eduardo
Costa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário