sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

E vamos falar sobre essa tão maltratada MÚSICA SERTANEJA (parte 05)


 

2000 – Bruno e Marrone



No meu universo, o sertanejo universitário começou com um professor do ensino médio. Não foram os estudantes, muito menos universitários. Esse professor meu de física da oitava série estava desenvolvendo um trabalho de laboratório e precisava de alunos que se voluntariassem a ajudá-lo durante as aulas. Eu era um desses. Um dia, quando fui colocar os materiais das aulas no porta malas do carro dele – pipetas, beckers, calculadoras científicas e toda essa parafernália - o professor soltou essa: “Sei que você é do rock, então vou colocar um som especialmente pra você”. E bombou um Bruno e Marrone, no último volume.

Confesso que aquilo me causou certa vergonha. Alheia e própria. Mas me chamou a atenção o fato de ele ouvir aquilo sem constrangimento. Quer dizer, Zezé, Chitão e Leonardo ainda eram bregas. Mas Bruno e Marrone, não! O sertanejo havia começado uma invasão abrupta e devastadora nos carros de playboy (inclusive nos professores playboys)!

Exatamente! Bruno e Marrone são os culpados pelo sertanejo universitário. Se tiver que jogar pedra na casa de alguém, é na deles. As grandes produções sertanejas, com músicos de primeira linha e orçamentos altíssimos já existiam, claro – os chitões que começaram. Mas, de maneira bem interessante, a elitização do sertanejo foi iniciada com a gravação do "Acústico Ao Vivo" do Bruno e Marrone, em 2001 - justamente o que meu professor colocou pra tocar. (Vale uma menção honrosa, também, a dupla Rio Negro & Solimões, que em 1998 inseriu a batida tecno na música “De São Paulo a Belém” e instalou a ambiguidade em nossos ouvidos.).

Aliás, ressalte-se que antes desse acústico, os próprios Bruno e Marrone só faziam sucesso entre as classes mais baixas, desde 1994. São eles os responsáveis por um fenônemo até então inédito: ficaram famosos antes de saírem na mídia de massas. Os primeiros álbuns que gravaram se tornaram bastante populares entre os vendedores de disco pirata. A pirataria foi a grande aliada da dupla – que vendia milhares de álbuns sem nunca ter ido sequer no programa do Túlio Isac (Ganhooooouuuuuuu!).

Esse foi o vírus
Para coroar, em 1999, a dupla participou de um especial para uma rádio em Goiânia. Esse especial vazou e foi comercializado clandestinamente como “Bruno e Marrone Acústico”. Vendeu milhões em todo o Brasil. O sucesso foi tamanho que a gravadora resolveu oficializar o disco, e o lançou com uma qualidade superior no mesmo ano. Vendeu outras mais de 500.000 cópias.

No ano seguinte, veio o Acústico Ao Vivo, com o lançamento do DVD do show. E, com ele, a consagração definitiva, porque paralelamente, surgiam os primeiros aparelhos de DVD automotivo – apenas nos carros dos playboys. Como não era moda o lançamento de shows em vídeo, a única coisa que a playboyzada tinha para ouvir e ver nos carros era o som do momento – Bruno e Marrone Acústico (tá, esse fim foi por minha conta – mas explica muita coisa).

O fato é que, depois disso, a coisa se espalhou igual a notícia ruim. Surgiram diversas duplas novas, a maioria lançando a carreira com discos acústicos e ao vivo, acompanhadas de DVD. Inclusive hoje é fácil achar na rua propagandas de duplas totalmente desconhecidas convidando para a gravação do DVD oficial. O modelo de mercado foi mudado e essa nova estratégia se tornou comum. Afinal, o custo de se gravar um show e lançá-lo como disco é infinitamente menor do que a produção do álbum em estúdio, já que a própria plateia, ao pagar ingresso, financia a obra.


A Saudade é o Prego
(Nilma Pinóchio)

Deu um arrocho no peito
Eu fiquei apavorado
São Paulo ficou pequena
Um lugarzinho abafado
Peguei a Via Anhanguera
E a coisa ficou pior
Quando passei em Campinas a
Dava pena dava dó
No trevo de Americana
Pensei, não vou agüentar
De Limeira até Araras
Fui chorando sem parar
Uma parada em Leme
Dei um alô a platéia
Foi lá em Pirassununga
Que eu tive uma boa idéia
E parar em Ribeirão
Tomar um chopp gelado
E lá eu passei em Franca
Comprei uma bota invocada
E na festa de Barretos
Cheguei muito apaixonado

A saudade é um prego
Coração é um martelo
Fere o peito e dói na alma
E vai virando um flagelo (4x)

De Uberaba à Uberlândia
Fui contemplando a beleza
Dando um tapa na saudade
Ouvindo moda sertaneja
Cidade de Araguari
O meu pranto era prova
Fui curar minha ressaca
Nas águas de Caldas Novas
Tem coisas que a gente pensa
Coração fica doente
Pensei na Lua-de-mel
Na Pousada do Rio Quente
E no Trevo de Morrinhos
Chorando igual criança
Se encontra-la em Goiânia
Eu vou cheio de esperança
E se na linda Goiânia
Eu não encontrar niguém
Amanhã bem cedo eu sigo
Com destino à Belém
Vou até no fim do mundo
Mas quero encontar meu bem

A saudade é o prego
Coração é o martelo
Fere o peito e dói na alma
E vai virando flagelo (4x)



Principais artistas do período: Bruno e Marrone, Rio Negro e Solimões, Guilherme e Santiago, Marcos e Léo, João Bosco e Vinícius, César Menotti e Fabiano, Jorge e Mateus, Victor e Léo, Fernando e Sorocaba, Marcos e Belutti, João Neto e Frederico, Cristiano Araújo, Eduardo Costa.

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