1970 – Sérgio
Reis
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Serjão cantando "Coração de Papel" |
Se você
escutar a música “Coração de Papel” (que já foi até música
tema de novela da Globo), vai achar que é sertaneja. Talvez pelo
tema. Mas, inegavelmente, pela voz do Sérgio Reis. Essa música
foi
um estouro na época da Jovem Guarda, em 1967. Música de ricos,
anti-comunistas. Mainstream total, por incrível que pareça.
E o
Serjão veio a mudar de gênero no início dos anos 70, passando para
o time dos caipiras. E mudando de estilo, a meu ver, mudou a própria
evolução da música também. Imortalizou canções como “Menino
da Porteira”, “Chalana”, “Pinga Ni Mim” e trouxe um ar de
modernidade para as músicas. De repente, ouvir sertanejo não era
tão fim de carreira assim. Afinal, há pouco tempo atrás, torcia-se
por duetos do Sérgio com Roberto Carlos, Vanderléia.
Com a
ascensão de Milionário e José Rico e outras duplas mais melódicas,
o estilo sertanejo tornou-se um pouco mais audível, menos
repetitivo. Sérgio Reis e os artistas da época investiam em novos
instrumentos, novas técnicas, nova temática. Saiam as violas,
entravam sanfonas, teclados, percussão. A dupla Léo Canhoto e
Robertinho chegou a introduzir a guitarra elétrica em suas músicas,
no final da década de 1960. Tudo isso ocasionou uma grande
popularização do cancioneiro caipira.
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Renato Teixeira e Sérgio Reis, 2010 |
Com a
popularização, novos artistas tiveram espaço. Artistas com
propostas diferentes, mantendo a ligação com o campo. Surgiu Renato
Teixeira, por exemplo. Artista mais refinado que, frequentemente,
flertava com a MPB. Influenciou Almir Sater, que nessa época tomava
lições de viola com Tião Carreiro e se lançaria na década
seguinte. (Sater e Teixeira acabaram virando grandes parceiros musicais).
Em entrevista à Revista da RBA (Rede Brasil Atual - SP), em 2011, Renato conta:
"Até 1970, a música brasileira era bem dividida. Bossa nova, samba,
nordestina, boleros. E a música caipira estava encerrando um ciclo
genial. Nesse momento, o Sérgio Reis, a dupla Léo Canhoto e Robertinho e
eu começamos a mexer com essa música. Minha influência do caipira vem
de Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Guimarães
Rosa. E Léo Canhoto e Robertinho mostraram que a dupla não precisava ser
só aquele modelo tradicional, que podia ser o que vemos e ouvimos hoje
com Chitãozinho e Xororó. Aí o terreno ficou fértil."
A
questão que ficou escancarada na época e que deveria se tornar mais
clara nos dias de hoje era uma só: é possível fazer música
caipira de qualidade e com viabilidade comercial.
Romaria
(Renato
Teixeira)
É de
sonho e de pó, o destino de um só
Feito
eu perdido em pensamentos
Sobre
o meu cavalo
É de
laço e de nó, de gibeira o jiló,
dessa
vida cumprida a só
Refrão
Sou
caipira, Pirapora Nossa
Senhora
de Aparecida
Ilumina
a mina escura e funda
O trem
da minha vida 2x
O meu
pai foi peão, minha mãe solidão
Meus
irmãos perderam-se na vida
Em
busca de aventuras
Descasei,
joguei, investi, desisti
Se há
sorte eu não sei, nunca vi
Me
disseram porém que eu viesse aqui
Pra
pedir de romaria e prece
Paz
nos desaventos
Como
eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu
olhar, meu olhar, meu olhar
Curiosidade:
“Romaria” se destacou tanto que diversos artistas de estilos
variados já a regravaram. A versão da Elis Regina, de 1977, ganhou projeção
internacional.
Principais
artistas do período: Sérgio Reis, Milionário e José Rico, Rolando
Boldrin, Leo Canhoto e Robertinho, Renato Teixeira, Gino e Geno
Referência:
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/63/entrevista
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