quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

E vamos falar sobre essa tão maltratada MÚSICA SERTANEJA (parte 03)




1970 – Sérgio Reis


Serjão cantando "Coração de Papel"
Se você escutar a música “Coração de Papel” (que já foi até música tema de novela da Globo), vai achar que é sertaneja. Talvez pelo tema. Mas, inegavelmente, pela voz do Sérgio Reis. Essa música
foi um estouro na época da Jovem Guarda, em 1967. Música de ricos, anti-comunistas. Mainstream total, por incrível que pareça.

E o Serjão veio a mudar de gênero no início dos anos 70, passando para o time dos caipiras. E mudando de estilo, a meu ver, mudou a própria evolução da música também. Imortalizou canções como “Menino da Porteira”, “Chalana”, “Pinga Ni Mim” e trouxe um ar de modernidade para as músicas. De repente, ouvir sertanejo não era tão fim de carreira assim. Afinal, há pouco tempo atrás, torcia-se por duetos do Sérgio com Roberto Carlos, Vanderléia.

Com a ascensão de Milionário e José Rico e outras duplas mais melódicas, o estilo sertanejo tornou-se um pouco mais audível, menos repetitivo. Sérgio Reis e os artistas da época investiam em novos instrumentos, novas técnicas, nova temática. Saiam as violas, entravam sanfonas, teclados, percussão. A dupla Léo Canhoto e Robertinho chegou a introduzir a guitarra elétrica em suas músicas, no final da década de 1960. Tudo isso ocasionou uma grande popularização do cancioneiro caipira.

Renato Teixeira e Sérgio Reis, 2010
Com a popularização, novos artistas tiveram espaço. Artistas com propostas diferentes, mantendo a ligação com o campo. Surgiu Renato Teixeira, por exemplo. Artista mais refinado que, frequentemente, flertava com a MPB. Influenciou Almir Sater, que nessa época tomava lições de viola com Tião Carreiro e se lançaria na década seguinte. (Sater e Teixeira acabaram virando grandes parceiros musicais).

Em entrevista à Revista da RBA (Rede Brasil Atual - SP), em 2011, Renato conta:

"Até 1970, a música brasileira era bem dividida. Bossa nova, samba, nordestina, boleros. E a música caipira estava encerrando um ciclo genial. Nesse momento, o Sérgio Reis, a dupla Léo Canhoto e Robertinho e eu começamos a mexer com essa música. Minha influência do caipira vem de Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Guimarães Rosa. E Léo Canhoto e Robertinho mostraram que a dupla não precisava ser só aquele modelo tradicional, que podia ser o que vemos e ouvimos hoje com Chitãozinho e Xororó. Aí o terreno ficou fértil."

 A questão que ficou escancarada na época e que deveria se tornar mais clara nos dias de hoje era uma só: é possível fazer música caipira de qualidade e com viabilidade comercial.
 
Romaria
(Renato Teixeira)

É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló,
dessa vida cumprida a só

Refrão
Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida 2x

O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Me disseram porém que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar

Curiosidade: “Romaria” se destacou tanto que diversos artistas de estilos variados já a regravaram. A versão da Elis Regina, de 1977, ganhou projeção internacional.


Principais artistas do período: Sérgio Reis, Milionário e José Rico, Rolando Boldrin, Leo Canhoto e Robertinho, Renato Teixeira, Gino e Geno

Referência: http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/63/entrevista


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