sábado, 2 de novembro de 2013

Sobre “Drinking Buddies"






Eu adoro filmes de diálogo. É aquele filme em que não há muita ação, e em que a trama se desenrola basicamente em cima de relacionamentos - que, obviamente, se expressam nas falas dos personagens. O exemplo clássico é a trilogia do Richard Linklater (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-Do-Sol e o mais recente, Antes da Meia-Noite), em que os protagonistas Jesse e Celine desfilam com seus dramas pelas ruas de cidades européias, remexendo conceitos (e preconceitos) dos telespectadores. Adoro esse tipo de filme porque, apesar de aparentemente sem ação, por incrível que pareça eles conseguem, geralmente, ir mais a fundo em questões fundamentais do que outros filmes que se propõe a tanto.

Assisti hoje a “Drinking Buddies”, que não foi lançado no Brasil ainda (e, portanto, até a presente data, não possui nome oficial em português - mas que poderia ser traduzido livremente como “Parceiros de copo”) e, infelizmente, não deve entrar no circuito principal. Talvez você o encontrará apenas em cinemas dedicados a filmes de arte e/ou de pequeno orçamento, videolocadoras especializadas ou na internet. Também se encaixa muito bem nessa categoria de “filmes de diálogo”.

Decidi assisti-lo depois de vê-lo figurar numa lista de melhores filmes de 2013, supostamente elaborada pelo Quentin Tarantino. Tarantas este que também é fã assumido de diálogos bem elaborados (o que, pensando bem, acaba dando um pouco mais de credibilidade à mencionada lista de filmes - que ainda conta com “Gravidade”, “Kick-Ass 2”, “É o fim” e o “Antes da Meia-Noite” do Linklater).

O filme é muito bom. Não espere chorar, ou morrer de rir, porque essa não é a proposta (apesar de a maioria dos sites da internet classificá-lo precipitadamente como comédia romântica ou drama). 

Escrito e dirigido por Joe Swanberg, trata-se da estória de Luke (o divertidíssimo Jake Johnson, da série 'New Girl') e Kate (Olívia Wilde, tentando - e conseguindo - se desvencilhar da imagem de mulher durona que cristalizou com outras atuações), colegas de trabalho em uma pequena fábrica de cerveja. Os dois são grandes amigos, que adoram tomar cerveja juntos e jogar sinuca no bar Empty Bottle com o restante do pessoal da cervejaria. E a partir da tensão sexual existente entre os dois, a trama se desenvolve, já que ambos estão comprometidos: Luke tem planos de se casar com Jill (Anna Kendrick) e Kate namora Chris (Ron Livingston), um produtor musical, há 8 meses.

Sorrateira e ardilosamente, o diretor nos instiga a olhar tudo pelo ângulo de romances melosos à la Nicholas Sparks, fazendo com que esperemos ver, a qualquer momento, Luke e Kate se entregarem aos beijos um do outro. A questão é que, o que impossibilita que eles fiquem juntos é o fato de terem, cada qual, seus próprios amores. Dai começa a complicação - mais para nós, espectadores, do que para os próprios personagens: torcer por eles é, também, torcer pelo fim de seus romances atuais ou, o que é pior, desejar assistir a uma traição. Chegamos a ser "brindados" com um deslize de Jill e Chris, o que levaria qualquer espectador a pensar: “Pronto! Olha ai!  Eles deram motivo! Agora é só terminar e partir pra cima!”.  

Mas acontece que Joe Swanberg não queria um filme sobre amores impossíveis, contrariando o vício da platéia nesse tipo de gênero. Ele queria justamente dizer que há mais possibilidades entre um homem e uma mulher. “Drinking Buddies” (e não “Drinking Lovers”) trata sobre a amizade e a construção de seus limites. Suas responsabilidades, seus riscos e sua perfeita compatibilidade com o amor. 

Não quero aqui ficar contando filme, o que acabaria com a discussão - e com o prazer de quem ainda não o assistiu. Mas se você for assistir (ou rever), basta reparar que os protagonistas formam, por si mesmos, uma dicotomia interessante para entender a ideia central: Luke, aparentemente, nunca teve dúvidas quanto à natureza da relação deles e é fundamental no processo de construção dos limites dessa relação (e ainda quebra o estereótipo de que homem só enxerga mulher pelo viés sexual); Kate, a parte mais vulnerável, diante das dúvidas que advém de seu relacionamento amoroso com Chris, aparece como contraponto, responsável pela incerteza e pelo “E se…”. Com base nisso, a amizade se fortalece.

O interessante é que a maioria das resenhas e críticas que li sobre o filme tendem a induzir o espectador a olhar pelo lado romântico de toda a estória. “Nada como cerveja para embaçar os limites da amizade” e por ai afora. Um certo apelo comercial. A meu ver, não entenderam nada. “Drinking Buddies”, muito mais que isso, quebra o clichê do grande amor e mostra o quanto é legal ter, também, um bom parceiro de copo. Transmite uma vontade louca ao espectador de chamar Kate e Luke (e Jill, por que não?) para o Empty Bottle e pagar a rodada de chope pra todo mundo. Pelo menos essa foi a vontade com que fiquei.

Um filme simples. Mas que trata de questões profundas com inteligência e bom humor. Como  todo bom “filme de diálogo”.

ALGUMAS CURIOSIDADES:

-> Joe Swanberg não escreveu os diálogos completos dos personagens. Entregou aos atores e atrizes o esqueleto das cenas e os instruiu a improvisarem, a fim de criar o clima certo de descontração. A maioria das cenas é fruto de trabalho e estudo dos próprios artistas. Com isso, ele queria evitar, principalmente, cair na previsibilidade que as comédias românticas geralmente inspiram.

-> Em grande parte das cenas, os atores e atrizes realmente estão bebendo cerveja.

-> Swanberg teve a ideia para o filme após receber de aniversário um kit de cervejas artesanais feito por uma cervejaria independente. A partir dai, quis escrever uma estória sobre conflitos adultos, mas que tivesse sempre uma abordagem divertida, apesar de séria.

-> O filme foi rodado numa cervejaria independente real de Chicago, chamada Revolution. Lá, existe uma funcionária que realmente se chama Kate, e que foi a base para Joe construir sua personagem.

-> Jake Johnson escolheu deixar seu personagem com uma barba bem espessa, o que daria um ar mais real a Luke.

Trailer:




2 comentários:

  1. Viva a cerveja, que é a base de tudo! Kkkkk!

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  2. Amei esse filme, sem tirar nem por. Infelizmente, muito mal divulgado.

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