sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A nova moda é o Espiritismo

Eu não acho que eu possa dizer que sou espírita. Não digo isso por um esforço narcísico de mostrar pra todo mundo que minha racionalidade é elevada demais para crer na existência de um Deus, ou para me render à manipulação de qualquer religião que seja. Pelo contrário. Seria injusto que eu me comparasse a tantos trabalhadores, espíritas ou de qualquer outra religião, que realmente se dedicam ao estudo e aperfeiçoamento de suas crenças pessoais e coletivas.

Mas, apesar de não me considerar “espírita praticante”, tento todos os dias ser um pouco mais crente, mais fervoroso quanto ao meu lado religioso, por assim dizer.

Entretanto, essa condição de “semi-espírita”, afastado o suficiente da religião em que acredito para ser minimamente imparcial, é que me possibilita afirmar: o Espiritismo é a religião da moda.

Traçando um breve perfil, acredito que a religião espírita é a mais aberta, dentre todas as outras. Não se apega a nenhuma liturgia, não dispõe de hierarquia (a não ser a meramente administrativa, indispensável à organização de qualquer grupo de pessoas), não apresenta condições, iniciações, reprimendas, nem qualquer outro tipo de obstáculo à comunicação entre o adepto e sua crença. Isso, claro, tem seus pontos positivos e negativos.

A meu ver, o ponto positivo é que, sendo despojada de tais mecanismos dogmáticos e rígidos, alcança mais facilmente o fim a que toda religião é proposta: servir de elo entre o ser humano e Deus. Já aprendíamos no ensino médio: Religião = Religação. É da própria etimologia da palavra, não sou eu quem fala. E quando menos interferências entre Deus e o ser humano, mais fácil é a comunicação, é a manifestação da fé. Isso, eu quem estou falando, por acreditar assim.

Entretanto, o grande ponto negativo é justamente a falta de parâmetros para a criação da identidade da própria religião. O que não é defeito apenas do Espiritismo, mas que é bem mais acentuado neste. 

Todo mundo pode se dizer espírita hoje em dia. Mesmo que não conheça um único livro básico da doutrina. Basta conhecer uma história de fantasma, dizer que o amigo da fulana que casou com cicrano já ouviu uma voz esquisita chamar o nome dele numa madrugada chuvosa qualquer e a pessoa já se diz simpatizante do espiritismo. É moda dizer que é crente-espírita, católico-espírita, evangélico-espírita. Se por um lado isso demonstra o senso crítico das pessoas, capazes de selecionar, dentre as religiões, aquilo que acham melhor em cada uma, por outro facilita muito que essas mesmas pessoas nunca obtenham conhecimento profundo de nenhuma delas. Sempre serão católicos/evangélicos/presbiterianos-espíritas superficiais.

E qual o problema nisso tudo?

A meu ver, as religiões são muito importantes. São totalmente dispensáveis quando se analisa a relação entre o ser humano e Deus, mas não deixam de ser importantes meios de troca de experiências, de compartilhamento de sentimentos e de fé. A religião não é importante na relação Deus/Ser humano, mas é fundamental na construção da fé pela relação entre os próprios seres humanos. 

E, ao meu ver, qualquer relação humana não pode ser estática. Quanto mais as derivadas da religião.
Religião tem que evoluir. Religião tem que se aperfeiçoar. Por mais que sejam calcadas em dogmas e em escrituras sagradas, imutáveis estas, o conhecimento religioso não pode de forma alguma parar no tempo. Deve ser renovado o tempo todo, acompanhando o crescimento da própria humanidade. E, para tanto, é fundamental que o estudo dos simbolismos, das escrituras e até da história religiosa não pare.

Dessa forma, a meu ver, pessoas indefinidas, que não se dedicam ao aprofundamento de qualquer religião que seja acabam por emperrar o desenvolvimento destas doutrinas. Ostentam o título de espíritas/católicas/evangélicas simplesmente por comparecer a uma reunião semanal, seja ela missa, culto ou outra coisa que o valha.

Espíritos sempre existiram. São citados o tempo todo na bíblia, nas histórias antigas, nos velhos ensinamentos. Uns os conhecem como anjos, como santos, como demônios, capetas, satanás. Mas não passam de espíritos, menos ou mais desenvolvidos. Assim, não foi o Espiritismo que os criou e muito menos são propriedade exclusiva deste. Se você já viu uma pessoa morta, se já ouviu coisas, se já teve alguma experiência mediúnica, isso não quer dizer que você está amaldiçoado ou abençoado, nem que se tornou espírita da noite para o dia. 

Quer entender o fenômeno? Garanto que o Espiritismo vai explicar melhor. Mas não precisa dizer que é católico-espírita ou evangélico-espírita só por causa dessa experiência. Aprofunde no estudo da religião em que você acredita e contribua para o desenvolvimento dela. 

Mas, sobretudo, não se esqueça de que o Deus em que você acredita está DENTRO DE VOCÊ. 

Certifique-se de procurar por Ele no lugar certo.

Um comentário:

  1. Édjer James

    Como é bom ver a visão tão profunda, livre e libertadora de um amigo tão querido. Caro amigo, caríssimo amigo, querido irmão, sua visão está tão pura e refinada quanto seu próprio coração. Parabéns pelo ponto de vista e pelo texto. Concordo com você em gênero, número e grau. Deus é uma experiência individual e intransferível e a religião (religare=religar) é uma das possibilidades de se chegar até ele. Religião não deve ser o desafogo de consciência dos fins de semana, com rezas, preces, orações e passes,mas a busca real do melhorar a si mesmo. Parabéns!!!
    Édjer James Dias Mendes
    Jornalista

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