sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Briga de Mano (PARTE 01)

A história começou em 2000, durante a gravação de um programa do Jô. Os principais entrevistados eram o Lobão e o Caetano Veloso, sendo que este último apresentaria, numa performance ao vivo com sua banda, uma das músicas novas de seu último álbum, “Noites do Norte”.
Antes de iniciar a apresentação, Caetano diz, olhando para o Lobão, que estava sentado em uma das cadeiras da primeira fileira do auditório:
- Essa música tem umas balas perdidas para o Lobão.
E cantou “Rock'n'Raul”.

Rock' n' Raul
Caetano Veloso

Quando eu passei por aqui
A minha luta foi exibir
Uma vontade fela-da-puta
De ser americano

(E hoje olha os mano)

De ficar só no Arkansas
Esbórnia na Califórnia
Dias ruins em New Orleans
O grande mago em Chicago

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul

Hoje qualquer zé-mané
Qualquer caetano
Pode dizer
Que na Bahia
Meu Krig-Ha Bandolo
É puro ouro de tolo

(E o Lobo Bolo)

Mas minha alegria
Minha ironia
É bem maior do que essa porcaria

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul 

 

A música é muito boa, por sinal. Mas o Lobão não gostou da crítica. E, como estamos falando aqui de Lobão e Caetano Veloso, obviamente que a coisa não foi resolvida via twitter ou via Ana Maria Braga.

Antes de passarmos ao desenrolar dos fatos, são necessárias algumas explicações.

Raul Seixas e Caetano nunca se deram bem. Apesar de baianos, tinham pontos de vistas totalmente diferentes quanto à condução de suas carreiras, basicamente no que diz respeito à utilização de elementos exteriores à cultura brasileira. Raul Seixas era o representante brasileiro do rock'n'roll, estilo musical inglês e americano. Caetano, juntamente com os demais artistas da Tropicália, exaltavam a cultura brasileira, o poder da música nacional frente à colonização. Chegaram a condenar a guitarra elétrica. Em Salvador, Raul fazia seus shows no Cine Roma, templo do rock baiano, enquanto Caetano, no início da carreira, tocava bossa nova no teatro Vila Velha, reduto de universitários e intelectuais ditos nacionalistas.

A briga era velada, claro. Ninguém dizia nada. Mas o Caetano passou a ter motivos de sobra para detestar o Raul quando este foi entrevistado num programa ao vivo, em Salvador. Perguntado sobre a versão de “Gitâ”, gravada pela irmã de Caetano, Maria Bethânia, o roqueiro, sem medir as palavras, disse que a cantora havia deturpado sua música e, inclusive, desafinado nas gravações. Perguntado se gostava de Maria Bethânia, Raul respondeu: “De costas!”.

Já no final da carreira, em parceria com Marcelo Nova, Raul Seixas escreveu o que seria uma música auto-biográfica:

Rock'n'Roll
Raul Seixas e Marcelo Nova

Há muito tempo atrás na velha Bahia
Eu imitava Little Richard e me contorcia
as pessoas se afastavam pensando
que eu tava tendo um ataque de epilepsia (de epilepsia)

No teatro Vila Velha, velho
conceito de moral
Bosta Nova pra universitário,
gente fina, intelectual
Oxalá, oxum dendê oxossi de não sei o quê (de não sei o quê)

Oh, rock'n'roll, yeah, yeah, yeah,
that's rock'n'roll

A carruagem foi andando e uma década depois
Nego dizia que indecência era o mesmo
Feijão com arroz
Eu não podia aparecer na televisão
Pois minha banda era nome de palavrão (nome de palavrão)

E lá dentro do camarim no maior abafamento
A mulherada se chegando
altos pratos pratos suculentos
E do meu lado um hippie punk
Me chamando de traidor do movimento
(vê se eu aguento)

(Traidor do movimento)

Oh, rock'n'roll, yeah, yeah, yeah,
that's rock'n'roll

Alguns dizem que ele é chato
Outros dizem que é banal
Já o colocam em propaganda
fundo de comercial
Mas o bicho ainda entorta minha coluna cervical (coluna cervical)

Já dizia o eclesiastes
Há dois mil atrás
Debaixo do sol não há nada novo
Não seja bobo meu rapaz
Mas nunca vi Beethoven fazer
Aquilo que Chuck Berry faz
(Chuck Berry faz)

Roll over Beethoven, roll over Beethoven,
Roll over Beethoven, tell,
Tchaikovsky the news

E pra terminar com esse papo
Eu só queria dizer
Que não importa o sotaque
e sim o jeito de fazer
Pois há muito percebi que
Genival Lacerda tem a ver
com Elvis e com Jerry Lee (Elvis e Jerry Lee)

Por aí os sinos dobram,
isso não é tão ruim
Pois se são sinos da morte
ainda não bateram para mim
E até chegar a minha hora eu vou com ele até o fim
(com ele até o fim)

Oh, Rock'n'roll, yeah, yeah, yeah,
that's rock'n'roll 



Claramente, a música tecia críticas pesadas a Caetano e à turma da Tropicália, com sua “bosta nova”. E serviu de inspiração quase que integralmente para a música apresentada por Caetano Veloso, no Programa do Jô.

A crítica, obviamente, era contra Raul Seixas. Mas, como o próprio Caetano disse, sobraram balas perdidas para o Lobão. A estória não pára por ai.

2 comentários:

  1. Desculpe, mas há alguns erros nesta tua análise:
    1 - Não consta q Caetano e Raul nunca se dessem bem. Raul Seixas era sarcástico com tudo e todos, mas suas relações com Caetano eram até amistosas e Caetano o elogiou em diversas oportunidades. Aliás, Raul termina "Eu Sou Egoísta" com a pergunta retórica que Caetano usou em "Alegria, Alegria": ("Por que não? Por que não?") e que traduz o que ambos defendiam: a ausência de engajamento ideológico. Anos depois, ao regravar a mesma música, Raul acrescentou um trecho de "Tropicália" de Caetano também.
    2 - Vc diz "Caetano, juntamente com os demais artistas da Tropicália, exaltavam a cultura brasileira, o poder da música nacional frente à colonização". Isso nunca ocorreu. Caetano é um dos arquitetos do tropicalismo que pregava justamente a mistura de elementos estrangeiros com os nacionais. Essa é a síntese da Antropofagia que os tropicalistas herdaram dos modernistas de 22. Nunca se posicionou contra o rock ou a guitarra, pelo contrário, Era fã declarado dos Beatles, dos Roling Stones e dos roqueiros tupiniquins da Jovem Guarda. Não participou e criticou a passeata contra a guitarra elétrica e uso guitarra já em Alegria Alegria e É Proibido Proibir, para desgostos dos tradicionalistas se aprersentou com um grupo argentino de rock. Na passeata contra a guitarra foi o Gil, que depois se arrependeu. Era tbm amigo de Raul e anos depois participou como percussionista da música do disco "O Segredo do Universo" de Raul "Que Luz é Essa"

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  2. Desculpe, mas há alguns erros nesta tua análise:
    1 - Não consta q Caetano e Raul nunca se dessem bem. Raul Seixas era sarcástico com tudo e todos, mas suas relações com Caetano eram até amistosas e Caetano o elogiou em diversas oportunidades. Aliás, Raul termina "Eu Sou Egoísta" com a pergunta retórica que Caetano usou em "Alegria, Alegria": ("Por que não? Por que não?") e que traduz o que ambos defendiam: a ausência de engajamento ideológico. Anos depois, ao regravar a mesma música, Raul acrescentou um trecho de "Tropicália" de Caetano também.
    2 - Vc diz "Caetano, juntamente com os demais artistas da Tropicália, exaltavam a cultura brasileira, o poder da música nacional frente à colonização". Isso nunca ocorreu. Caetano é um dos arquitetos do tropicalismo que pregava justamente a mistura de elementos estrangeiros com os nacionais. Essa é a síntese da Antropofagia que os tropicalistas herdaram dos modernistas de 22. Nunca se posicionou contra o rock ou a guitarra, pelo contrário, Era fã declarado dos Beatles, dos Roling Stones e dos roqueiros tupiniquins da Jovem Guarda. Não participou e criticou a passeata contra a guitarra elétrica e uso guitarra já em Alegria Alegria e É Proibido Proibir, para desgostos dos tradicionalistas se aprersentou com um grupo argentino de rock. Na passeata contra a guitarra foi o Gil, que depois se arrependeu. Era tbm amigo de Raul e anos depois participou como percussionista da música do disco "O Segredo do Universo" de Raul "Que Luz é Essa"

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