quarta-feira, 21 de março de 2012

Brincando de bandido



Torcida organizada é sempre tema polêmico.

        Freqüentemente confundida com crime organizado, tráfico de drogas e uso ilícito de armas, são elas movimentos sociais legítimos, cujo fim primeiro é apoiar, de forma organizada, os times de futebol a que estão ligadas.
       
        A união organizada e apaixonada em torno de um único objeto cria um vínculo tão forte entre seus membros que a coisa acaba bagunçando, quando uma parte de seus participantes acham as arquibancadas pequenas para seus propósitos e o movimento estende suas atividades para além de seus fins originais.




        A falta de controle sobre os membros da massa organizada (fruto de diretorias fracas, desorganizadas e autoridades públicas incompetentes) dá margem à entrada de todos os tipos de pessoas no grupo, criando clima propício ao desenvolvimento de atividades ilícitas: O chamado crime organizado para fins de tráfico, uso ilícito de entorpecentes e de armas e a violência indiscriminada contra membros de torcidas rivais.

        Obviamente, a incompetência do Poder Público e a falta de caráter da imprensa distorcem a realidade, criando um monstro de sete cabeças que não existe. A população execra o movimento legítimo e é onde surge a falsa confusão entre torcida organizada e crime organizado.

        Qualquer pessoa inteligente percebe que, nem todo membro de torcida organizada é criminoso. E que atividades criminosas ligadas às torcidas organizadas nem sempre (aliás, quase nunca) expressam o pensamento das diretorias destas torcidas. Eu disse “nem sempre”. Há casos em que isso invariavelmente ocorre, infelizmente.

        O fato é que membros de torcida organizada geralmente sofrem de uma carência por atenção e poder, seja em virtude do seu lugar de origem, seja em virtude do tratamento que recebem do poder público, seja pela embriaguez causada pela falsa sensação de poder que um grupo grande e organizado propicia. Uma imensa maioria de policiais, em qualquer parte do mundo, sofre do mesmo mal (basta ver a infindável quantidade de abusos cometidos por policiais). Alguns chamam de corporativismo. Eu chamo de carência. A sensação de que se é invencível, intocável. E se alguém enfrentar, meus companheiros me dão suporte. Então, bora pra porrada.

        Esse lado obscuro da torcida organizada, ao contrário do que todo mundo prega, constitui um tipo de crime “desorganizado”. Frequentemente é um crime pelo crime. O criminoso é de ocasião, apenas pela adrenalina do momento. Não há estrutura organizada para movimentar dinheiro, angariar fundos, disputar mercados, como nos morros cariocas. E justamente por ser desorganizado, esse tipo de crime se torna o mais perigoso e o mais difícil de ser combatido.

        Grande parte desse tipo de criminoso compõe-se de jovens (ou até mesmo crianças) que gostam de brincar de bandido. Gostam da adrenalina de correr da polícia, de disputar territórios (para que fins mesmo?), de exibir armas que não lhes pertence, de perpetrar agressões gratuitas contra quem quer que ostente motivos de times rivais. Enfim, crimes banais, perpetrados por mentes vazias, sem um objetivo maior. E a dificuldade em combater esse tipo de criminalidade reside justamente no fato de não haver motivo aparente para sua existência.

        O motivo, mais escondido, está onde ninguém quer procurar: falta de emprego, de educação (familiar e escolar). De se suprir a carência demandada, com atenção e dedicação do poder público e da família. Certamente, teremos torcedores e policiais melhores. E todo mundo vai querer participar de uma torcida organizada (porque sabe que crime organizado é outra coisa).



ps.: Não concorda? Deixe sua opinião nos comentários!!

4 comentários:

  1. Muito pertinente o tema, Tito! Concordo plenamente! Eu mesmo prometi a mim mesmo que não irei mais aos jogos do meu Goiás contra o Vila Nova, justamente por causa das inúmeras confusões e até mortes já registradas no clássico e aposto que essa é a mesma ideia da maioria dos torcedores de ambos os times goianos!

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  2. Respostas
    1. Não entendi sua contra-argumentação. Já o anonimato, faz sentido.

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  3. Só brincando? #Mouse Em tempo: faz sentido, certas coisas, permanecerem no anonimato. Melhor nem falar em mato!

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