14/11/2013 - Goiânia/GO
Qualquer
pessoa que trabalhe com Axl Rose, em algum ponto, chega à inevitável
conclusão: “Esse cara quer que eu seja empregado dele”. E com
Gilby Clarke não foi diferente. Até porque ele era, efetivamente,
músico contratado do Guns'n'Roses no período em que tocou com Slash
e companhia, entre 1991 e 1994.
Clarke
substituiu Izzy Stradlin nas guitarras bases (que eram brochantemente
ligadas alguns decibéis abaixo das guitarras solos de Slash) após
esse último decidir pelo seu desligamento do Guns, de forma
misteriosa até para os próprios membros da banda. Em sua
autobiografia, Slash conta que Izzy, um dos que mais usava drogas
durante as turnês, em certo ponto sumiu e não compareceu mais aos
ensaios. Telefonou depois para Axl, dizendo que estava fora da banda.
Ele mesmo, Stradlin, disse posteriormente que, uma vez que houvesse
largado as drogas, enxergou a bagunça que era sua vida com o Guns, e
decidiu se afastar. Isso da metade para o fim de 1991. Retomou
contato com os antigos bandmates apenas de uns anos pra cá.
Enfim.

Por
falar em “Use Your Illusion”, essa foi a grande sorte de Gilby.
Ter substituído
Izzy no curso da
turnê mundial e no auge do sucesso da banda o tornou um rosto
conhecido em frações de segundo. Ele é o cara que aparece em todas
as filmagens do famoso show no Tokyo Dome, no Japão, eternizado em
uma das raras apresentações do Guns em qualidade de som e imagem
superiores. Praticamente todo o resto é bootleg
ou essa depressão de banda que é atualmente, com a empresa Axl Inc.
Ou
seja, Gilby foi apresentado, conhecido e eternizado em grande estilo.
O segundo cara dos lenços (o primeiro, obviamente, é o Steven
Tyler). O cara do
corvette novo.
No
dia 14/11, ele voltou ao Brasil para uma série de 4 apresentações.
De Los Angeles,
desceu direto em
Goiânia, no Bolshoi Pub, para passar o som.
Quando
eu cheguei, antes da “abertura dos portões”,
não tinha ninguém na porta do pub.
O
preço do ingresso a R$110,00, somado
ao início do
Festival Vaca Amarela no Martim Cererê (bandas
boas a preços justos),
e a tensão pré-Caldas Country que esvaziou a cidade contribuíram
também para
o esvaziamento do show. Uma pena.
Alguns minutos
depois das 21h30,
vi Andria e Ivan
Busic (os
irmãos Dr.
Sin que acompanham
Gilby na turnê brasileira e que dispensam apresentações) saírem
pela porta principal, após a passagem de som. Desci os olhos pro
celular pra comentar com a galera do WhatsApp
e, quando levanto novamente, o cara tá na minha frente, ainda de
mala em punhos. Isso mesmo, o cara do corvette novo. Arrebentado
pelas horas de vôo, blazer amassado, cabelos ensebadamente
rock'n'roll, óculos de sol aviador quando o sol já havia sumido há,
pelo menos, 4 horas... Cara, isso é estar na estrada.
E
foi heroico ver aquele sujeito destruído por mais de 12 horas de vôo
subir no palco empunhando sua Les Paul Goldtop historicamente surrada
e enfrentar pouco mais de 200 pessoas ansiosas
por vê-lo,
tratando-as como se fossem o Tokyo Dome lotado, de outros anos. Pelo
menos foi assim na primeira música – por ironia, “Wasn't
Yesterday Great”. Depois de alguns “urrul” da plateia, ele caiu
na real de que não estava nos fantásticos e apertados pubs de
Hollywood. Aquilo era Goiânia do pé rachado.
Depois
da primeira, veio “Black”, um clássico da sua carreira solo.
Aliás, músicas dessa fase sobraram. Muita gente foi para ouvir
Guns'n'Roses - e se decepcionou, porque ele tocou só “It's So
Easy” e a batidíssima “Knocking on Heavens Door”, que nem é
do Guns, diga-se de passagem. Knocking, pra mim, é como Pais e
Filhos da Legião, Come As You Are do Nirvana, Another Brick In The
Wall do Pink Floyd. Músicas fantásticas, mas que
não refletem a
profundidade obra da banda e viraram gigantescos “arroz com
feijão”. No caso do Gilby, hits
como “Cure me... or kill me”, “Tijuana Jail”, “Motorcycle
Cowboys” (da fase do Kill for Thrills) e “Be Yourself” (do
Rockstar Supernova), verdadeiras peças do Hollywood HardRock farofa
de raiz, permanecem de lado sem o seu devido valor. Ele
tocou todas, para uma plateia morna. Me
excluo dessa.
Mas
o pior foi quando ele disse “Now, I'll play a song of a great band.
The band who inspired me. Do you know The Rolling Stones?” ou algo
nesse sentido. Uma música dos Stones! Que isso! Casa abaixo era o
mínimo. Mas o que se ouviu foram alguns aplausos isolados, no máximo
um “urrul!” que surpreendeu ao próprio Gilby. E mandou ver “It's
Only Rock'n'Roll (but I like it)”. E mais tarde, antes de começar
Dead Flowers (também dos Stones), mandou essa “Do you want more
Stones? Oh, come on, I'll play whatever the fuck I want”.
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"Anybody out there?" |
Performances
fantásticas dos irmãos Busic e do próprio guitarman.
Apesar da plateia,
o show seguia ótimo. A parte patética veio na própria “Knocking
On Heavens Door”. Cantando a versão do Guns, ele pediu
participação da plateia no coro final. E a cada vez que não
era 100%
correspondido (ou
seja, quase sempre),
ele mandava pérolas. De primeiro, disse “Oh my god! You sounded
like angels!”. Da segunda, mandou “This night will be amazing!”.
Na terceira, falou “I've never heard something like this before.
Admit it! You've been practicing!”. Era de morrer de rir, por falta
de outra palavra mais trágica. A
culpa não foi dele.
Por
fim, encerrou com “Tijuana Jail”, dizendo que mal espera para
voltar a Goiânia novamente para agitar as coisas. Voltou rapidamente
para o encore,
tocou “Alien” e sumiu para o backstage.
Impressionante é que, pelo
que li por ai, o
show no Bolshoi parece ter sido bem melhor que o de Uberlândia, São
Paulo e Rio de Janeiro.
De
qualquer forma, Gilby é um cara impressionante. Respira, vive,
veste, exala rock'n'roll. É um legítimo rockstar, um
guitar hero,
e de uma simpatia invejável. Mesmo com uma plateia pouco receptiva,
com o cansaço da estrada e numa
cidade
desconhecida
pra ele, conseguiu fazer um show memorável. Um setlist
de 11 músicas, com pouco mais de 1 hora de duração, mas que, pra
mim, valeu cada minuto (e
começou pontualmente! Ao contrário de certa Maria Gadu, que no
mesmo dia e horário deixava a plateia esperando 3 horas pelo início
do show no Centro Cultural Oscar Niemeyer).
Gosto de pensar que esses caras são história viva. Em
maior ou menor grau, participaram
da formação do que conhecemos hoje
como rock'n'roll.
São os Napoleões, Getúlios
e Joanas D'Arc do meu estilo favorito – e ainda existem, respiram
por ai.
E ainda faturei uma palheta! |
14/11/2013
0h00 – Goiânia/GO, Bolshoi Pub
SETLIST:
1.
Wasn't
Yesterday Great
2. Black
3. It's
Only Rock 'n' Roll (But I Like It) (cover
dos Rolling Stones)
4. Motorcycle
Cowboys (música do Kill
for Thrills)
5. Be
Yourself (música do Rock
Star Supernova)
6. It's
So Easy (música do Guns
N'
Roses)
7. Cure
Me ... Or Kill Me ...
8. Knockin'
on Heaven's Door (música
do Bob Dylan, versão do Guns N' Roses)
9. Dead
Flowers (cover dos
Rolling Stones)
10. Tijuana
Jail
Bis:
11. Alien
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